domingo, 24 de janeiro de 2010

Reinaldo Alves dos Santos Ex Interno

nos personagens e inclusive na cobra que pica. Em outra pintura, uma menina esconde
o rosto por detrás de suas mãos. Ao seu redor, pequenos pássaros se mesclam com
a flora. A expressão nos olhos da criança são um misto de dor e desesperança. Isso
contrasta com os tons vivos e fortes das cores. Há uma trama intrincada entre forma e
signos. Essa ambigüidade mostra as tantas faces que podem obter as formas desse artista.
Conde também se debate com as diversas possibilidades de seu ofício.
Como um trabalhador que escolhe sua melhor ferramenta para atingir a excelência
da execução, ele flerta em diversos momentos com o figurativo e o abstrato.
Conhecedor das nuances dos novos caminhos, em escritos seus, ele diz tentar "uma
nova linguagem sem muita expectativa de avançar (ainda não confio na abstração)".
Jocosa, a desconfiança do artista diz respeito ao ato gratuito de adotar uma linguagem
que pode não expressar as suas verdadeiras preocupações. Não que a abstração seja
apenas alienação. Ela é mais do que isso. Por outro lado, quando mal compreendida,
ela pode ser o uso inconseqüente de um meio.
Conde, sendo um artista negro, é um homem que pensa seu meio. Assim,
ele reflete não só sobre si, mas também, a partir de uma perspectiva muito especial,
sobre os indígenas e os excluídos. O fato de poder realizar essa reflexão de dentro
lhe confere uma visão particular muito rica. Essa visão não é mais verdadeira ou
importante do que outras. Todavia, dentro do sistema de significados que vivemos,
em que as classes excluídas têm pouca voz (ou nenhuma); uma obra como a sua é
fundamental.
As distinções de artista naïf ou popular não colaboram para compreensão de
seu trabalho. Conde é um artista contemporâneo, vive seu tempo e momento, pensa
sua época, expressa suas dúvidas e dilemas. Esses poucos quadros mostram o seu
embate com uma atividade contínua em explorar a si mesmo e os outros, o mundo.

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